por Silvio Ferraz no O Globo
Os baús com roupas do presidente Lula começam a deixar a Granja do Torto, sua residência oficial partilhada com o Aerolula, e seguem para armários no Centro de Pesquisas Esotéricas com seu nome, em São Bernardo do Campo. Fica em Brasília, entre poucos ternos, o smoking com lapelas cravejadas de pedras falsas e brilhosas que o presidente-mágico veste quase que diariamente. É seu uniforme de ilusionista, que usa em picadeiros espalhados pelo mundo, com sua corda dourada de dar nós. É o profissional das mentiras que, ora se aperfeiçoa em técnicas iranianas com o mágico e domador Ahmadinejad, ora com o vizinho do norte, Chávez, El Brujo - claro, sempre às custas do contribuinte, que paga quase cinco meses de salário para cobrir os impostos que sustentam sua corte e seus sonhos.
Nos últimos tempos decidiu exibir-se com maior intensidade. Afinal, o Mágico de Nós necessita passar seu cacife eleitoral para uma múmia. A arquibancada reage, pasmem, a favor do ilusionista, conforme indicam as pesquisas recentes. Na outra ponta do picadeiro, para alegria dos aloprados, o holofote ilumina seu ajudante e escudeiro preferido, que nunca o deixou: Zé Dirceu. O povo ouve os aloprados se esgoelarem e, por que não?, esgoela-se também. Primeira mágica, do campo núcleo-oriental: segurar uma bomba atômica, sacudi-la e mostrar ao mundo que está oca. Seu colega iraniano levanta seu braço em regozijo. O anão Celso Amorim, segundo ajudante do ilusionista, passa outro bilhete para seu Guia Lula - "É hora de baixar a porrada no crioulo com nome de árabe". Com um olhar de soslaio, Lula lê e vai em frente, para atender à confraria de mágicos sul-americanos - El cocalero Evito e Brujo Chávez.
No seguinte, entra para dar mais uma laçada com sua corda mágica. O Mágico de Nós aponta com suas lantejoulas para um canto do picadeiro. Brilham os holofotes em cima da alegria do norte brasileiro, o Marimbondo de Porre, como é chamado em determinadas rinhas maranhenses, ou Ali Sarney e os 40 Ladrões, como é mais conhecido em outras. Sua filha aparece contorcendo-se numa difícil dança do ventre - onde entram dólares, saem euros. Lula dá outro nó - desta vez na seção petista maranhense da arquibancada. "Freeze", ordena, copiando os poderosos agentes do FBI, que todas as noites o deixam mesmerizado quando assiste às Telas Quentes noturnas.
O próximo número é o mais embasbacante: a multiplicação dos pães, a seis meses de deixar o picadeiro. Abre os nove dedos e começa a jogar tijolos de dinheiro, com o entusiasmo de Chacrinha lançando bacalhau. "Para o companheiro Sarkozy e sua decadente economia industrial", grita, "36 bilhões de dólares em jatos Rafale"; "Para a fábrica de salsichas Bertin e outras empreiteiras que, no fim, a seguirão, outros 36 bilhões de reais, e mais outros tantos que virão em pagamentos adicionais, a construção da hidrelétrica de Belo Monte"; "Para a Marinha, acostumada a comprar sucata francesa, um submarino nuclear Sarkozy sem o reator Bruni, é claro". Enquanto a Banda dos Fuzileiros Navais explode com a marcha "Tem nego bebo aí", outro palhaço, Marco Aurélio Top Top, surge no picadeiro em cambalhotas, correndo e dando bananas para os contribuintes calados, pasmos com o espetáculo. O Mágico de Nós verifica que os nós estão cegos, bem apertados, e acena frenético para as arquibancadas. Claro, ele quer voltar.
SILVIO FERRAZ é jornalista.
1 Comentário:
GUSTA,
TEXTO BRILHANTÍSSIMO, NOTA DEZ AO JORNALISTA SILVIO
Postar um comentário