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Os assassinos da liberdade
Augusto Nunes - augusto@jb.com.br

No Brasil, as maiores e mais poderosas ramificações da tribo dos fora-da-lei costumam recorrer a recados transmitidos por pombos-correio ou mensagens telefônicas cifradas para ordenar assassinatos ou formular ameaças de morte. Instituídas pelo Comando Vermelho (CV), tais cautelas seriam adotadas pela associação Amigos dos Amigos (ADA) e aperfeiçoadas pelo hegemônico Primeiro Comando da Capital (PCC).

Comparado a similares desse porte, o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) padece de raquitismo agudo: seu poder de fogo é tão assustador quanto o da Marinha de Guerra da Bolívia. Mas conta com um trunfo de bom tamanho: diferentemente do que ocorre nas outras siglas, tanto oficiais quanto soldados do MR-8 estão em liberdade.

Dispensada de cautelas recomendáveis a quem, como os chefes do PCC, toma decisões na cadeia, a cúpula do MR-8 resolveu surpreender o país com a inovação audaciosa. Para ameaçar de morte o colunista Diogo Mainardi, da revista Veja, usou a primeira página do jornal Hora do Povo.

Há dias, o porta-voz do bando informou que Mainardi fora condenado ao pagamento de uma indenização no processo movido pelo jornalista (e agora ministro da Comunicação) Franklin Martins. O texto não ressalvou que a decisão foi tomada em primeira instância. E derrapou em duas omissões.

A Hora do Povo não revelou que o conteúdo da sentença foi transmitido a amigos do acusador um dia antes de oficialmente redigida - e antes que chegasse ao juiz a argumentação do réu. Nem contou que Franklin ajudou a fundar o MR-8 e, de 1979 a 1983, integrou a chefia da organização.

Essas espertas omissões desqualificam qualquer informação. Mas se tornam quase irrelevantes quando confrontadas com o fecho do texto: "Ao que tudo indica, Diogo Mainardi está pedindo para perder algo mais. Pode ficar tranqüilo. Não faltarão almas pias para fazer a sua vontade".

A vítima entrou na Justiça com uma queixa-crime contra o jornal. Carlos Lopes, diretor de redação da Hora do Povo, tentou aparentar surpresa: não houvera ameaça nenhuma, sorriu. Acabou por reafirmá-la ao concluir a declaração: "Só estamos dizendo que quem faz qualquer coisa pelo vil metal se arrisca. É a vida".

A violência que ronda Mainardi amplia, e agrava perigosamente, a ofensiva contra jornalistas independentes que reiniciou a guerra à liberdade de imprensa declarada nos primeiros dias da Era Lula. O bombardeio recomeçou com a louvação da censura ao noticiário eleitoral feita pelo companheiro Ricardo Berzoini. Aumentou há dias, quando o general Arlindo Chinaglia decidiu atacar com um processo o jornalista Arnaldo Jabor. A vileza consumada pela Hora do Povo avisa que já não existem limites para os assassinos da liberdade e da democracia.

A última página do jornal do MR-8 é enriquecida por um informe publicitário da Receita Federal. Em vez de enquadrar e punir siglas criminosas, o governo federal agora financia a bandidagem de estimação.

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